segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Uma viagem ao tempo

Era hora do almoço, e minha vizinha chegou louca na minha casa dizendo que tinha encontrado uma máquina do tempo no porão da sua casa, provavelmente era do seu bisavô, ela disse que viajou no tempo e viu coisas incríveis. Ela falava desesperadamente, pulava palavras e se engasgava, até que me olhou nos olhos e perguntou se eu gostaria de experimentar.
Nós fomos até a casa dela, descemos as escadas, quando ela acende a luz eu posso ver uma máquina enorme com luzes piscando e um pequeno painel, me dirijo até lá, digito no pequeno teclado: 1999. Então minha vizinha grita:
- Tome isso, quando quiser voltar é só apertar esse botão. - Entro na máquina, tudo escurece e quando abro os olhos me vejo, literalmente me vejo, com recém 5 anos, sentada no chão da minha antiga casa.
Vou andando lentamente até chegar ao meu encontro, abaixo e digo olhando em meus olhos, ou seria seus olhos, enfim, não importa:
- Você precisa acreditar em mim, eu sou você daqui 10 anos, tenho muitas coisas para lhe contar e você precisa acreditar. Quero te dizer para tomar um pouco mais de cuidado com quem se escolhe, para desconfiar mais de algumas pessoas e simplesmente acreditar em outras, quero que aproveite todos os segundos um pouco mais, porque tem coisas na vida que passam tão rápido, mas tão rápido que lhe dão a impressão de que nunca foram vividas por completo. Então meu pequeno eu, durante esses próximos 5 anos brinque muito, aproveite tudo que a vida lhe der, sinta o sabor de um pote inteiro de sorvete e não se importe em devorar uma barra de chocolate, fique sem roupa o dia inteiro, diga aos seus pais que você os ama mais que tudo, pule em cima da cama, respeite os mais velhos, faça amizades, tenha um amor bobo só para você provar o começo do veneno, mas não se importe com ele. Por favor, viva muito intensamente, viva tudo que você puder viver e jamais se esqueça disso e o mais importante, não se preocupe, somente viva! Agora eu preciso ir, tenho que me encontrar com os meus 12 anos. - Aperto o botão e volto para o porão, peço permissão para dar uma passada em 2006 e ela autoriza. Fecho os olhos e novamente acordo, já em outra casa.
Como eu era diferente do que lembrava, eu estava lá sentada numa cadeira, tentando terminar alguma tarefa. Eu podia ver o que eu estava pensando, que era porque não podiam gostar de mim, porque eu tinha que ser tão diferente, estava pensando que não aguentava mais. Doía em mim me ver sofrendo daquele jeito, era apenas uma criança. Me aproximei dela e disse:
- Não se assuste, não grite. Eu falei com você quando você tinha 5 anos, não sei se ainda lembra. Mas eu sou você daqui 3 anos, sim, você realmente vai mudar bastante. Agora quero te pedir que me escute, as pessoas podem ser más quando elas querem, e isso vai te machucar, isso vai acontecer várias vezes, e você não pode se poupar disso! Você simplesmente tem que superar, e saiba que todos que lhe machucam agora, irão se arrepender depois. E caso não se arrendam, não te importe, e aos que se arrependerem saiba perdoá-los, afinal você vai errar muito, vai fazer muitas coisas que não deveria e vai esperar que seja perdoada. Agora, não mude suas decisões, eu sei exatamente o que você quer fazer, continue querendo, siga o seu instinto e depois você vai entender porque foi melhor para você. Outra coisa muito importante, daqui dois anos você vai encontrar alguém que dirá que te ama, eu não acreditei, então te peço que faça o contrário, peço que você acredite e valorize cada momento, e principalmente depois do trailer vermelho, só depois do trailer vermelho, diga que o ama e que sabe que não vai esquecê-lo, que não quer assustá-lo mas quer ficar com ele, para sempre. - Ela, eu, me olhava como se tivesse absorvido cada palavra e aquilo me satisfez, ainda mais quando ela soltou:
- Você voltou, ainda bem. Prometo que farei tudo isso, está tudo anotado.
- Espero que realmente faça, eu saberei quando voltar ao meu tempo se tudo se resolveu como deveria. - Apertei o botão.
Cheguei no porão e sai correndo pra casa. Depois eu explicaria o que havia acontecido, subi para o meu quarto abri uma gaveta, peguei uma agenda velha e fui até o M, Matheus, ainda estava ali o telefone dele. Peguei meu celular com a mão tremendo e digitei os números, logo depois uma voz suave atendeu:
- Alô, quem é?
- Matheus? Sou eu Lauren.
- Lauren? Meu Deus quanto tempo!
- Como assim, a gente não deveria estar juntos agora?
- O quê? A gente não se fala já vai fazer 6 meses.
- Garota idiota. Eu não disse que te amo?
- Disse Lauren, mas depois eu te contei que não conseguia sentir o mesmo, lembra? O que deu em você?
Foi a gota d'água, desliguei o telefone, e finalmente com toda a certeza do mundo eu percebi, não havia nada que eu pudesse fazer para mudar o que tinha acontecido. Voltar no tempo para corrigir os meus erros, não fora suficiente para ele.
Nem sempre quando a pessoa parece perfeita para você, ela realmente é.

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